Tenho 16 anos acabados de fazer. Chamam-me estupida por ter estas ideias, mas a verdade é que quero mesmo trabalhar. Não é que vá adiantar muito, serão apenas uns trocos para o meu mealheiro. Mas uns trocos são sempre uns trocos, e são sempre melhor que nada. Assombra-me a ideia de ter de estar tão dependente dos meus pais e encarregá-los tanto das minhas despesas. Sinto-me condicionada para ir ao cinema, comprar um livro ou ir ao teatro, porque neste país a cultura paga-se e, infelizmente, paga-se caro. Quero ter independência, entrar no mundo do trabalho e, mesmo que não me safe, ao menos tentar. O sabor da experiência ninguém me tira. Já fiz um currículo e não me parece estar mau. Para 16 anos também não se pode pedir grande coisa. Os meus pais dizem que sim e que muito bem, mas quando chega a hora dão-lhe uma de "tem de ser conversado", o que me irrita. Encontrei um part-time de segunda a sexta das 18.30 às 21.30, porreiríssimo. Dizem-me que tem de ser muito bem falado porque não me querem deixar vir para casa todos os dias às dez da noite. E, no entanto, deixam-me passar as sextas e sábados até às tantas no Bairro Alto. Afinal em que é que ficamos? Vá, não os censuro, são pais e têm o direito e o dever de me proteger. Mas era só uma borla, para eu me lançar à estrada. Era tão bom! Enfim.